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Maria não vai com as outras.

opiniões pessoais sobre tudo um pouco.

Maria não vai com as outras.

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31
Mar19

Um andar esquisito.

Patrícia Pereira

Já alguém fez um comentário sobre a forma como andam? Bem a mim volta e meia acontece-me. Normalmente sempre da mesma forma, “Tens uma forma de andar esquisita”. Bem que eu saiba não existe uma métrica para avaliar a forma de andar. Logo o “andar esquisita” remete sempre para o diferente. As pessoas têm sempre uma opinião sobre o que é diferente. E por isso dei por mim a reflectir nisso. O que é que a minha forma de andar tem de diferente para ser reparado. Afinal de contas a meu ver andar deveria apenas ser uma forma de ir do ponto A ao ponto B e não um motivo de reflecção. Mas já que o é para os outros assim será agora para mim.

 

Um amigo elaborou um pouco mais sobre o que o meu andar tem de diferente. Andas com um ar determinado. Pois se eu determino que vou andar é para algum fim, logo o seu determinismo. Ninguém anda só por andar. Mas sei que é mais que isso. Sei que quando era mais nova andava muito de cabeça para baixo. Cresci muito depressa quando era criança, com treze anos já tinha a altura que agora tenho, um metro e setenta. Fazia-me em parte confusão e por isso sei que me encolhia. Fazia-me confusão porque durante muito tempo era a pessoa mais alta da minha turma. Mais alta que os rapazes inclusive. Por isso baixava a cabeça e encolhia os ombros. Nessa altura ninguém reparava na forma como andava. Talvez porque esperam que as mulheres sejam sempre pequenas, encolhidas. No entanto tomei consciência disso um dia e decidi tentar começar a olhar para a frente. Afinal de conta se tenho a altura que tenho não fazia sentido tentar ser mais pequena. Fazia sentido ser eu, com a minha altura, com os meus ombros largos, caminhar com os meus ombros direitos, cabeça direita, para a frente. E a partir daí passou a fazer confusão a muita gente. Passou a ser-me chamado a atenção no trabalho, na escola, em conversas com familiares e amigos.

 

Bem, depois disto dei por mim a pensar, será que se eu continuasse a andar encolhida, com a cabeça para baixo, me chamariam a atenção para a minha forma de andar? Ou apenas achariam normal. Talvez achassem normal, na medida em que as mulheres acabam sempre a ter de se encolher de uma forma ou de outra, dado vivermos ainda numa sociedade extremamente machista. Mas pensando nisso mais me dá a vontade de andar com a cabeça direita. Para a frente, como sempre é o caminho. E mesmo que faça confusão as pessoas não acho que deva mudar nada. O amor-próprio é uma coisa muito bonita e deve ser estimado.

21
Mar19

Sobre errar.

Patrícia Pereira

Tenho uma tendência a me deixar consumir pelos meus erros, como se fossem irreversíveis. Mas acho que é um produto da cultura em que cresci. Ninguém incentiva ao erro, embora o erro seja muitas vezes o primeiro passo para aprendizagem.

 

Eu cresci sendo perfeccionista. Embora nos momentos em que me sinto mais consciente saiba que errar é natural, humano e saudável, no momento em que erro sinto-me miserável ao ponto de entrar em pânico as vezes. Hoje aconteceu-me duas vezes e ainda não recuperei. Ando a tirar a carta de condução e a levar muito a serio todos os erros que cometo. Embora o instrutor me tente relaxar e tentar abstrair disso, eu chego a casa a híper analisar todos os erros como se fossem o fim do mundo. E sei que não é saudável mas não sei como não o fazer. Como relativizar o erro quando se é perfeccionista?

 

Acredito que seja em parte uma questão de aceitação. No entanto com o passar dos anos e o aumento da maturidade em tantos outros campos da minha vida, esse aspecto parece que tem vido a piorar. E não sei exactamente como lidar com isso. Talvez expressar ajude, dado que coloco aqui a minha vergonha de errar em palavras. Amanha vou tentar não levar isto tão a serio, hoje já é tarde demais para isso.

05
Mar19

Sobre a educação de homens.

Patrícia Pereira

Considero-me feminista por necessidade. E acho que a necessidade é em parte pelo facto de ainda haver artigos desta natureza. E muito se têm falado de assimetrias na igualdade de homens e mulheres ultimamente. Em parte porque historias de violência domestica, todo o circo que se esta a gerar em torno de um juiz, ou pelas tentativas falhadas de publicidades tentarem enquadrar-se no #metoo. E no meio disto tudo há algo sobre o qual me questiono sempre, que é a educação, a educação de homens.

 

E não me querendo de todo assumir como alguém formada no assunto, tenho a escola da vida de bons e maus exemplos, e muitos deles por parte das mulheres. Não só porque tradicionalmente eram as mulheres que ficavam em casa a educar os filhos. Mas porque ainda agora se vê mulheres a dizer a homens para ser Homens, que homens não choram, que homens vão ser homens. E a ironia é que são as mulheres que vão ser prejudicadas por esses estereótipos que muitas vezes perpetuam. Por isso sinto que, se em parte ainda são as mulheres as educadoras de homens devem ser as mulheres a liderar no exemplo. Não só porque sinto que é irresponsável ainda se perpetuar mitos, mas como é irresponsável não se ensinar a cuidar da casa, cozinhar e cuidar da roupa. Não se vai preparar ninguém para a vida senão se ensinar a cuidar de coisas que influenciam directamente o dia-a-dia. Sejam homens ou mulheres.

 

Eis que se põem o cenário de bons e maus exemplos. A minha avó materna era um bom exemplo, na medida em que os filhos sabiam cozinhar, as filhas sabiam cozinhar. E todos ajudavam nas tarefas domésticas. Eu herdei uma máquina de costura de um tio, filho dessa mesma avó, que sabia fazer de tudo verdadeiramente, e tenho bastante orgulho nisso. Já a minha mãe casou com um homem que era um estereótipo, na medida em que não mexia uma palha em casa. A minha mãe falhou em reeduca-lo, a meu ver, e não o ensinou em nada. Mas passou a mesma educação que recebeu aos filhos. O meu irmão sempre soube fazer tudo em casa, e recordo-me da minha mãe estar doente e ser ele a cozinhar para as irmãs mais novas. O meu irmão é agora pai de um filho e sei que não vai precisar de ser a minha cunhada a ensinar as tarefas de casa ao filho, na medida em que estão os dois num pé de igualdade nesse departamento. E isso é feminismo no seu melhor.

 

Num ponto ainda mais pessoal, o meu companheiro poderia ser como o meu pai. Não sabia fazer nada em casa, porque aí a minha sogra falhou a educar homens. Ate no ponto dele ter uma dificuldade terrível em expressar os seus sentimentos e necessidades, de culminou com uma ida ao psicólogo quando ele se sentia mal. Porque ele precisava de se expressar a mim e não conseguia, precisava de dizer o que sentia e o que achava que deveria mudar em nós para termos uma relação de sucesso. No entanto a educação de ser Homem não o ensinou a dizer o que sente. Agora as coisas estão muito melhores na nossa relação porque ele sabe expressar o que sente e temos uma relação mais franca.

 

Noutro ponto, eu tive de o educar no que toca a coisas da casa. Ele não sabia cozinhar, cuidar da roupa, gerir um orçamento em casa, porque na família dele esse era o papel da mãe. Eu não cometi o mesmo erro da minha mãe. Ensinei a cozinhar, ensinei a limpar. E sinto que agora estamos num pé de igualdade. Temos uma relação saudável porque ambos temos tempo para descansar e ambos partilhamos responsabilidades de casa uma vez que ambos trabalhamos. E sinto que cumpri a minha obrigação de educar homens até agora.

 

Se todas as mulheres fizerem o mesmo, mais depressa chegam a um patamar de igualdade. E mais depressa estaremos numa sociedade em que o papel e educar homens deixa de ser da mulher e passar a ser de todos. Ainda não vivemos numa sociedade de igualdade por isso não podemos descartar de algo que é nossa responsabilidade.

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