Uma história trágica de como uma relação de longa dada com a escrita está a esmorecer.
Durante anos associei à minha criatividade a minha identidade, como se fosse um laço indestrutível. No entanto chegada aos trinta, e não escrevendo nada de jeito há tempos, não entendo a sua função biológica em mim. Se por um lado a minha criatividade ganhou novas formas, como no ponto cruz ou no Photoshop e Illustrator, a minha paixão pelo texto esta em parte morna - isso é em si uma das minhas crises de identidade. O verbo já não é a minha paixão fogosa e não sei o que fazer com uma cabeça cheia de retorica. Se me ensinei a viver com esses princípios e se através deles encontrei alguma cura para a mágoa, para o meu medo de existir. Anos de preparação para isso deixaram me inapta para outras realidades, outras variações.
Claro que posso culpar o digital, ainda me recordo de quando escrevia em papel e não se apagava nada, pelo menos na minha escrita com caneta. No digital é mais fácil a censura, talvez seja esse o problema. O digital é como o meu cérebro, corrige antes de verbalizar. A vida real é como um papel escrito a caneta – nada se apaga permanentemente. E talvez tenha de substituir novamente o digital pelo papel, para fazer as pazes com a escrita e para poder saber quem sou novamente. Para atingir o realismo necessário que pretendo na minha escrita, sem censuras e com emendas visíveis.
Isto para dizer ola blogue. Passou um tempo mas ainda estou cá. Assim como a escrita, com a qual ainda estou casada. Ainda possuo a necessidade de extrapolar da minha realidade para uma realidade irreal, com censura digital. Este texto foi inicialmente escrito em papel, com riscos e letra imperfeita, mas tudo fica mais perfeito e politicamente correcto no digital. Apenas para dizer que voltei a escrever em papel por necessidade. Está é a versão melhorada de uma ideia incompleta, por isso veio aqui parar, para quem a quiser consumir.