Cor de Rosa.
Há tantas coisas que ando há anos a reprimir em mim que nem sequer me apercebo delas, no entanto nestes tempos que correm dou por mim a confrontar. Como a realidade daquela que eu achava ser a minha aversão ao cor de rosa. Achava que não gostava, não sabia porque não, apenas que não. Achava que era demasiado feminino e achava que isso era errado. Que ser demasiado feminino é errado. Que há alguma coisa de errado com a cor de rosa. Que é errado homens usarem cor de rosa. Que a cor é excessiva de alguma forma.
Comprei umas calças cor de rosa. Fuchsia. Foi uma das prendas para mim mesma de anos. Mandei vir pela net por causa do corona, esperei por elas mais do que o resto das coisas que comprei. Vesti as calças, serviram bem. Aí percebi o que eu achava de errado com o cor de rosa. O preconceito que associei à cor foi o mesmo que me fez achar esse símbolo de feminino como algo negativo, como sinal de fraqueza. Como se só as cores ditas mais masculinas fossem sinal de força. Como se apenas os ideias masculinos de força fossem algo objectivamente aspiracional.
Percebi que tentei durante anos associar características minhas a características masculinas, porque me achava que apenas daí derivava o meu valor. E foi preciso umas calças cor de rosa para perceber isso. Sei que é em parte um problema cultural, o valor das coisas ditas masculinas ser a norma. É, no entanto, possível confrontar a logica do nosso pensamento enviesado pela cultura. E assim perceber que o valor não está na cor de rosa ou azul, no masculino ou feminino. A nossa espécie depende de ambos logo ambos têm valor igual. É isso que importa ressalvar mais que tudo, ensinar as próximas gerações, expurgando a ideia que o feminino não tem o mesmo valor que o masculino. Reverter a cultura patriarcal para um nível de igualdade. Para que ninguém tenha vergonha do cor de rosa.